quinta-feira, janeiro 04, 2007

E de volta à informação.

No outro post (aqui) escrevi que a informação numa sequência de elementos, por exemplo uma molécula de ADN, é determinada pelo número de tipos diferentes de elementos e pelo número de elementos na sequência. Isto é verdade para especificar sequências em geral.

Mas se queremos transmitir uma sequência em particular podemos reduzir a quantidade de informação. Por exemplo, o número e, base dos logaritmos naturais, é uma dízima infinita não periódica: 2.718281828459... Mas pode ser especificado como (imagem tirada da wikipedia)



No outro extremo podemos imaginar uma sequência infinita aleatória. Esta só pode ser codificada com uma quantidade infinita de informação, porque não se pode codificar aquela sequência aleatória de forma mais concisa.

Isto revela o antagonismo entre especificidade e informação. Algo que possa ser especificado de forma concisa pode ser codificado com pouca informação, e algo que tem mais informação não pode ser especificado de forma tão concisa. Daí o contra-senso na exigência criacionista. Citando Jónatas Machado:

«O melhor que os evolucionistas conseguem é dizer que a complexidade especificada contida no DNA surge por mutações aleatórias e selecção natural.[...]
As mutações benéficas são raras, não são seleccionáveis e não acrescentam informação complexa e especificada ao genoma.»

Quanto mais especificado menos informação. Por isso é claro que as mutações não podem ao mesmo tempo aumentar a especificidade e a informação. As mutações acrescentam informação precisamente por serem aleatórias e não específicas. O que aumenta a especificidade é a selecção natural, que o faz à custa de reduzir informação eliminando preferencialmente as variantes com menor desempenho na luta pela reprodução.

O problema não está na teoria da evolução, mas na contradição que é o conceito criacionista de informação especificada.

Para saber mais sobre a constante e

4 comentários:

  1. Caro Ludwig:
    Tem afixado aqui um rol de excelentes artigos, mas acho que nunca vai convencer quem acredita no bispo Ussher, que proclamou em 1665, com base nas escrituras, que a Terra foi criada exatamente às 9 horas da manhã do dia 23 de outubro de 4.004 a. C.

    Por conseguinte, o Adão foi criado seis dias depois dessa data. O único problema da data, é que não se sabe bem quando foi, dado ser comummente aceite que Crito não nasceu no ano "0" da era crstã.

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  2. Faz todo o sentido. Se eu criasse o universo em 7 dias, também tiraria uma soneca de 4.000 anos antes de me materializar num homem para ser pregado numa cruz pelos pecados dos outros.

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  3. Caro Krippmeister,

    Está a gozar, mas por acaso deve cansar fazer um mundo numa semana...

    Também há políticos que trabalham só 5 anos no governo, e ficam tão cansados que têm direito logo a reforma (embora possam continuar a trabalhar nas suas empresas o tempo que desejarem) …

    Também há desportistas profissionais (embora só se queixem a ameacem greve os que ganham mais – os do futebol) que acham que aos 30 e tal anos estão cansados demais para voltar a trabalhar (se é que chegaram a trabalhar alguma vez) e querem viver dos rendimentos que conseguiram por não pagar impostos como as outras pessoas…

    Também há médicos que se queixam (e claro ameacam greve..tamos em portugal...) que é "cansativo" (só vejo possivel essa justificação) colocar um código de 4 números, assinando a sua entrada no hospital, dentro do seu horário de trabalho… (será que só eu acho suspeito tanto medo e desorientação por terem de provar que se apresentam a horas?...)

    Bem, quem se cansou agora fui eu…e já me perdi na conversa…

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  4. Caro Lino,

    Obrigado pelo comentário. Concordo que os criacionistas por fé religiosa não vão mudar de fé, mas talvez alguns percebam que a sua fé é somente isso: fé.

    Mas há muita gente que não tem opinião formada e julga que há mesmo uma polémica científica acerca disso. A esses gostava de deixar claro que o criacionismo é científicamente tão polémico como a teoria que as cegonhas trazem os bébés.

    Os que já sabem disso pode ser que aproveitem alguma coisa daqui a próxima vez que virem um criacionista a vender os seu produto aos mais incautos. Infelizmente temo que se vá tornar cada vez mais frequente.

    Finalmente, este é o meu blog do desabafo, e esta treta do criacionismo incomoda mesmo :)

    Um abraço

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