quarta-feira, agosto 29, 2007

Ao lado, parte 2: porque crêem os crentes.

Noutra rajada ao lado, o Bernardo Motta afirma que

«esta é a catequese iluminista, defendida por Ludwig [...]:
[...] Os crentes de hoje ainda procuram consolo na religião porque têm medo da morte, mas também porque precisam ainda de uma explicação fácil para as injustiças»


Mais uma vez, a pontaria é exímia. Se há coisa que eu acho que não se procura na religião é mesmo este consolo. Claro que consola pensar que a morte de um ente querido não é o fim, que algo dele sobrevive nos outros, nas nossas memórias. Que ainda nos vê e nos ouve. Mas isso não é religião.

A religião interpõe-se entre o crente e o consolo. Sim, a sua alma sobrevive e vai encontrar a paz. Mas é preciso esta missa, um enterro com estes rituais, o senhor padre dizer estas coisas como se conhecesse o falecido de algum lado, e assim por diante. E fica bem pagar por estes serviços. A religião não dá consolo. Põe-se à entrada e cobra bilhetes.

E o que faz o crente pensar que é preciso esta treta toda é o hábito. Desde criança que lhe dizem que é assim, que assiste a missas e casamentos e funerais, e acaba convencido que é assim que tem que ser. Que só com aqueles rituais e voltinhas todas é que a alma vai para o sítio certo e que o amor de duas pessoas só é a sério depois do tipo de batina dizer palavras já gastas de tão repetidas.

O hábito não faz só o monge. Faz o crente. Faz o muçulmano, o católico, o protestante. Cada caso é um caso, somos todos diferentes, e o que motiva cada um de nós é sempre um conjunto complexo de impulsos, ideias, predisposições e sorte. Porque calhou, porque faz mais sentido, porque os amigos ou familiares acreditam, porque simplifica as coisas, há certamente tantas razões como crentes. Mas o factor principal é que o crente religioso se habituou desde criança a acreditar nessas coisas.

Há crenças que ajudam a lidar com a perda ou sofrimento, que dão esperança, que dão a sensação que as coisas correm pelo melhor. Enfim, que consolam. Mas não a religião. Ritualizar estes sentimentos e enfeitá-los com teologias da treta não serve para dar consolo. Serve para se aproveitarem do desconsolo dos outros.

Ao lado, parte 1
1- Bernardo Motta, 26-8-07, Materialismo em estado puro

3 comentários:

  1. Muita religião é totalmente alienante. Concordo inteiramente. Muitos dos ritos religiosos a que assisto são totalmente incompreensíveis do ponto de vista bíblico.

    Muitas das mensagens dos profetas do velho testamento são contra a religião alienante, baseada no culto dos ídolos, nos rituais sem sentido, na religião fria e formal. Os mesmos clamavam também contra aqueles que, dizendo-se religiosos, eram cumplices da maldade e da injustiça.

    Por seu lado, Jesus Cristo entrou em conflito essencialmente com os religiosos do seu tempo, mostrando-lhes que se haviam esquecido do essencial: do amor a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo.

    A sua mensagem foi de tal modo rejeitada que o mesmo acabou por ser crucificado pelos romanos com o apoio dos judeus. De resto, a sua mensagem é rejeitada por muitos mesmo agora.

    A Bíblia afirma que a religião pura e imaculada diante de Deus e dos homens é cuidar dos mais fracos e guardar-se da corrupção do mundo.

    A mensagem da Bíblia propõe uma relação saudável com Deus e com os outros.

    Ela assenta na ideia de que o ser humano e toda a criação necessitam de uma cura que só o Criador (e não as criaturas ou as imagens de escultura) pode dar.

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  2. A isto acresce que os ateus também têm a sua fé.

    Eles acreditam que o Universo surgiu por acaso a partir do nada, contra a lei da causalidade, sem que exista qualquer evidência empírica de que isso é assim.

    Eles acreditam que a vida surgiu da não vida, contra a lei científica da biogénese, que afirma que a vida só surge da vida.

    Eles acreditam na evolução das esp´
    especies, sem que exista qualquer evidência geológica ou biológica nesse sentido.

    Os ateus, à semelhança dos cristãos, também têm uma fé.

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  3. Os ateus também acreditam na gravidade, sem nenhuma evidência nesse sentido.

    Todos têm Fé.


    E, parafraseando o autor do blogue, careca é apenas uma cor de cabelo diferente.

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