terça-feira, agosto 05, 2008

Crime e castigo à americana.

Em 2001 e 2002, do seu quarto em Londres, Gary McKinnon acedeu a 97 computadores das forças armadas dos EUA e da NASA. McKinnon procurava ficheiros sobre extraterrestres, antigravidade, geração gratuita de energia e outras tretas. E o seu método para cometer o que os americanos chamam «the biggest military hack of all time» foi experimentar palavras-chave que vêm de fábrica em muito equipamento de ligação à Internet. Ou seja, o seu sucesso deveu-se a haver pelo menos 97 computadores nestas redes que ainda tinham as passwords do fabricante.

Os EUA podiam ter despedido os incompetentes que configuraram as redes militares e dado uma medalha ao tipo que mostrou como aquilo estava mal feito (os norte coreanos e os chineses esqueceram-se de os de avisar). Mas para isso era preciso um mínimo de bom senso. Por isso optaram pela alternativa. Pediram a extradição para McKinnon ser julgado nos bons EU da A onde se habilita a 60 anos na cadeia à conta da incompetência americana. Apesar de ter só bisbilhotado e antes do 11 de Setembro, McKinnon é considerado um perigoso terrorista.

Esta semana a justiça do Reino Unido concedeu o pedido de extradição. A menos que o tribunal Europeu dos direitos humanos intervenha, McKinnon vai ser sacrificado numa tentativa inútil de expiar a incompetência americana.

Mais no Guardian, America's cracked code e na Wikipedia, Gary McKinnon. Via Schneier on Security.

8 comentários:

  1. O Homer Simpson é mais representativo do que caricatural. Não esquecer...

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  2. < Advogado do diabo >
    Se eu deixar a porta destrancada e um ladrão entrar e roubar, isso iliba o ladrão de responsabilidade criminal?
    < /Advogado do diabo >

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  3. Jaime,

    Se deixares a porta aberta e um vizinho entrar em tua casa, sair e deixar tudo como está, duvido que apanhe uma pena de 60 anos de cadeia. A não ser que vivas nos EUA, talvez...

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  4. Ou melhor. Se um ministro deixa uns documentos secretos no combóio e alguém pega na pasta e dá uma olhada, estamos perante um crime de espionagem ou de negligência?

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  5. Tens razão, a história é ridícula.

    Mas eu cá até aposto que os incompentenetes ainda devem ter sido despedidos... Longe dos holofotes, para que não se perceba publicamente quais os verdadeiros culpados.

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  6. Acho as prioridades legais cada vez menos válidas.
    Um tipo que mata a mulher à porrada é capaz de apanhar 5 anos e saír a meio da pena se for bem comportado.
    O que é feito da democracia?

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  7. As autoridades norte-americanas acusam o moço de ter causado danos de várias centenas de milhares de dólares. Não sei se é verdade ou não, eu não estava lá. E a minha tendência é como a de toda a gente: instintivamente estou do lado mais fraco, ou daquele que me parece mais fraco. Mas não me esqueço que, para já, só sei o que um lado disse e o outro desdisse. Agora estou à espera de provas.
    O que penso sim é que a haver julgamento devia ser na Grã-Bretanha onde foi cometido o alegado crime e de onde o réu é natural. Para a extradição até agora só vejo motivos políticos, e, isso sim, parece-me uma grande injustiça.
    Cristy

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  8. Cristy,

    Aqui podes ler a acusação. Eles alegam que ele apagou ficheiros e que instalou programas para acesso remoto e causou danos de centenas de milhares de dolares.

    E aqui está a decisão de negar o recurso da extradição. Os EUA disseram basicamente que ele ia ter 2-4 anos de cadeia, servindo um nos EUA e o resto ficando em liberdade condicional no RU se não contestasse o pedido de extradição. Mas se o contestasse, a pena vai até 70 anos e uns milhões de dólares de multa.

    Por isso acho que isto é um caso de bullying, em que tentaram fazê-lo prescindir dos seus direitos, e um caso flagrante de estar a castigar a coisa errada.

    O grande crime aqui não é um tipo com um PC a instalar software e apagar ficheiros. O crime é um sistema tão crítico estar assim aberto e sem segurança. É que este tipo esteve um ano a mexericar nos computadores militares dos EUA, e, segundo ele, cada vez que lá estava via pessoal ligado de várias partes do mundo a fazer a mesma coisa...

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