quinta-feira, maio 05, 2016

Treta da semana (atrasada): glifosato.

A avaliação de riscos tem de ser quantitativa. Intuitivamente, percebemos isto quando riscos e benefícios nos afectam directamente. Decidindo bem ou mal, muita gente fuma, conduz e bronzeia-se mesmo sabendo que corre perigo. Recentemente, a Visão publicou um artigo alarmista sobre os alegados perigos das redes sem fio. O artigo é um misto de ignorância, deturpação e mau jornalismo (1) mas é o tipo de coisa que assusta muita gente. No entanto, entre o alegado perigo para a saúde e a falta de Internet, a maioria parece escolher a primeira opção. Daí a ausência de petições a proibir telemóveis ou routers. Mesmo que houvesse algum risco, seria obviamente necessário quantificá-lo e pesá-lo com os benefícios da tecnologia antes de deitar fora o bebé com a água do banho.

Infelizmente, quando os benefícios são indirectos ou menos evidentes é fácil pintar o problema a preto e branco. Ou há risco, ou não há. E, se há, então é preciso proibir. Foi o que aconteceu com o glifosato. A petição pela «proibição total de venda, distribuição ou uso do herbicida glifosato em território português»(2) invoca a classificação dada pela International Agency for Research on Cancer (IARC), que pôs o glifosato na categoria “2A”, de provavelmente cancerígeno para humanos. O comunicado da Quercus menciona esta classificação e acrescenta que «entre 2002 e 2012 o uso de glifosato na agricultura mais do que duplicou» e que Portugal «é o sétimo país europeu onde mais se morre de» linfomas não-Hodgkin (LNH) (3). Segundo noticia o Diário de Notícias, «Um estudo realizado com 26 voluntários portugueses, das regiões Norte e Centro do País, detetou a presença do herbicida Glifosato [com uma] concentração média de 26,2 mg/l por pessoa [,] "vinte vezes superior" às que são encontradas, por exemplo, em cidadãos suíços e alemães.» (4) É de preocupar qualquer um. A menos que tentemos quantificar este perigo.

Começando pelos dados da Quercus, quando olhamos para o gráfico da mortalidade por LNH, nota-se que, apesar de estar em sétimo lugar, a diferença entre Portugal e outros países da UE não é muito grande. Além disso, a mortalidade não depende apenas da exposição a factores de risco. Depende também do tratamento. Quando olhamos para a taxa de incidência, obtida da mesma fonte (e é pena que tenha escapado isto à Quercus), Portugal não só cai 4 lugares como fica atrás da Suíça, com uma concentração média de glifosato vinte vezes inferior à dos voluntários do estudo (5).



Isto não prova que o glifosato seja inócuo e, se bem que a evidência seja ténue, é razoável suspeitar que seja cancerígeno. Mas esta classificação de “2A” da IARC não implica que seja perigoso. Outros compostos com esta classificação incluem «emissões da combustão doméstica de biomassa (principalmente madeira)» e «emissões de fritura a alta temperatura», mas não se justifica temer as batatas fritas, proibir as filhoses ou acabar com a consoada à frente da lareira (6). O glifosato é comercializado desde 1974. Foi usado por milhões de agricultores em todo o mundo e em muitas cidades para matar as ervas dos passeios. Centenas de milhões de pessoas foram expostas regularmente a este composto durante quatro décadas. Se o uso que lhe têm dado fosse tão perigoso quanto apanhar sol ou beber cerveja já não seria meramente suspeito de ser carcinogénico (a IARC classifica a luz ultravioleta, seja natural seja de lâmpadas artificiais, e todas as bebidas alcoólicas, na categoria “1”, de carcinogénico para humanos).

Além do risco do glifosato estar quantitativamente aquém daquilo que o alarmismo sugere, proibir a sua utilização também tem riscos. O glifosato é muito usado por ser barato, pois as patentes relevantes caducaram há mais de quinze anos, mas também porque quarenta anos de uso permitem balizar com confiança o perigo da sua utilização. Se proibirmos o glifosato, o recurso a herbicidas alternativos para os quais temos menos informação pode ter consequências graves. O aumento nos custos de produção também afectarão a saúde e o ambiente. Aumentar o preço dos produtos nacionais aumentaria as importações e, com isso, o consumo de combustíveis. Ao mesmo tempo, iria reduzir o consumo de vegetais e agravar problemas de saúde com impacto muito maior do que o dos linfomas não-Hodgkin. Como diabetes, obesidade e outras formas de cancro, por exemplo. Quem tem dinheiro pode comer produtos “biológicos”, se isso lhe der consolo, mas nem toda a gente consegue pagar três euros por um quilo de cenoura “biológica” em vez dos cinquenta cêntimos que custa o quilo da que dizem ser menos biológica.

Além do glifosato, há muita coisa que faz mal. A imperial, o cheiro a fritos, o fumo da lareira e uma tarde na praia. Até os routers podem fazer mal. Não será pela radiação que emitem, porque apanhamos radiação mais intensa e mais energética do candeeiro da mesa de cabeceira do que do router ou do telemóvel. Mas os compostos voláteis libertados pelos transformadores e circuitos quentes dos aparelhos que temos por toda a casa não devem fazer muito bem. No entanto, a pergunta relevante não é se é possível que estas coisas causem cancro. O relevante é perguntar se o risco é suficientemente maior do que o risco das alternativas para que faça sentido abdicar das vantagens que nos trazem. Neste momento, não parece ser esse o caso.

1- Recomendo a carta aberta da COMCEPT acerca disto: Carta aberta à Visão
2- Proibição do Herbicida Glifosato em Portugal
3- Quercus, Glifosato: o herbicida mais vendido em Portugal afinal pode causar cancro em humanos
4- DN, Portugueses têm nível elevado de herbicida cancerígeno no sangue
5- O gráfico completo está aqui: EUCAN, Non-Hodgkin lymphoma
6- A lista completa pode ser descarregada, em pdf, da IARC: Agents Classified by the IARC Monographs

22 comentários:

  1. Obrigado por este artigo, estas medidas (proibir certos herbicidas) são completamente irracionais. A consequência lógica do racional para proibir esta substância seria proibir todas as substâncias classificadas como 2A, mas isso seria completamente absurdo porque proibir choriços e morcelas não faria muito sentido. Mas proibir herbicidas encaixa na narrativa de certas organizações que promovem ideias de conspirações globais de empresas malvadas contra o zé povinho. Há que denunciar estas situações.

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    1. ERRO TODOS OS HERBICIDAS SÃO TÓXICOS E USÁ-LOS NAS CIDADES PARA AS CRIAS DE KRIPPAHL RESPIRAREM AS GOTÍCULAS É ESTÚPIDO E UMA CALÇADA VERDE É MAIS BONITA

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    2. E ISSO AÍ NÃO É UM ARTIGO É MAIS UMA MANIFESTAÇÃO DE FÉ NELE PRÓPRIO QUEM QWER QWE ELE SEIJA

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    3. "seria proibir todas as substâncias classificadas como 2A,"
      Uma coisa é proibir a venda e a utilização por parte de cada individuo. Outra coisa é restringir o uso em espaço público. Alguem comer a sua alheira não me afeta diretamente. Alguem fumar num espaço publico fechado ao meu lado sim (e por isso k ja existe a regulamentação que existe). O uso de herbicidas em espaços publicos é equivalente ao ultimo exemplo. O cidadão é exposto, contra a sua vontade e sem o seu controle.
      A proibição do uso (no geral) e a proibição do uso em espaço publico, são casos distintos, e devem ser tratados como tal.

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  3. O Ludwig Krippahl deixa muito a desejar em termos de pensamento crítico e mesmo de competência científica na sua própria área. Especializou-se em tretas, na verdade.

    Aqui há alguns meses, apresentou a resistência das bactérias aos antibióticos como evidência da evolução (!!?).

    Logo nessa altura lhe apontámos a estultíccia dessa afirmação e o nosso espanto sobre como é que um auto-proclamado especialista em pensamento crítico a podia ter feito.

    É claro que ele também se auto-proclamou, neste seu blogue, como um "macaco tagarela" e isso talvez permita compreender melhor os processos mentais que conduziram a essa afirmação.

    A verdade é que os estudos científicos mais recentes sobre a resistência das bactérias aos antibióticos mostram que esse processo nada tem que ver com a imaginada transformação evolutiva de bactérias em bacteriologistas ao longo de milhões de anos (não observados nem observáveis)

    Vejamos o que os cientistas observaram:

    "A resistência aos antibióticos tem um preço para os microorganismos.

    Os antibióticos operam por via da perturbação dos mecanismos bioquímicos que são de importância vital para a função dos micróbios (por exemplo, bloqueando a síntese de proteínas ou enzimas respiratórias), o que significa que eles só conseguem sobreviver com grandes alterações na estrutura de proteínas-chave, ou através da produção de moléculas que neutralizam a droga.

    Alterando as suas propriedades bioquímicas ou utilizando recursos em reações químicas adicionais, as bactérias inevitavelmente perdem eficiência consumindo alimentos mais lentamente e dividindo-se mais lentamente, e certamente não será o caso de esses micróbios conseguirem expulsar os microorganismos comuns."

    Ou seja, a resistência das bactérias aos antibióticos significa degradação bioquímica, destruição de funções bioquímicas vitais e perda de eficiência, de maneira alguma criando estruturas e funções inovadoras e mais complexas.

    A relação que isso possa ter com a hipotética evolução é pura fantasia naturalista, digna de "macacos tagarelas".

    O Ludwig Krippahl tem que continuar a desenvolver as suas capacidades científicas e críticas, mas aconselha-se que comece pelo domínio rigoroso dos factos relevantes, especialmente daqueles que se ligam diretamente às suas áreas de investigação.

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    1. Caro Criacionista,

      É-me difícil imaginar uma melhor forma de descrever a evolução como o fez!
      A adaptação de um organismo (no caso, as bactérias) ao meio ambiente hostil (antibiótico) e mesmo assim sobreviver, é um exemplo excepcional.
      Se aceita como correcta a descrição do artigo, então meu caro, parabéns: você é um "evolucionista".

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    2. A maioria das resistências aos antibióticos, por exemplo às penicilinas, é feita pela produção de (novas) enzimas que os destroem. Não pela alteração do metabolismo.

      Quanto à perda de eficiência, é certo que existe, mas não deixa de permitir a essas bactérias sobreviverem e prosperarem em determinados nichos ecológicos onde as outras morrem. Ao longo da evolução de microrganismos para humanos também perdemos eficiência a fazer muita coisa. Mas ganhamos outras capacidades.

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    3. PS: É giro ver que a obsessão doentia do Jonatas por este blog continua! :)

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    4. Senhor criacionista, o artigo é sobre a reacção dos antibióticos com a flora intestinal:
      "The human intestine contains trillions of bacteria, which together are called the microbiome. Bacteria protect us from harmful microorganisms, produce digestive enzymes, and help the immune system to function normally. [...] The researchers built a model of the interaction between two types of bacteria and the intestine and they determined what happens when antibiotics kill a large number of microorganisms."

      Além disso, a experiência resulta apenas de um modelo informático:
      "In our study, we used a simple modelling method—Agent Based Modelling (ABM)—to recreate the processes involving bacteria that take place in the gut and explain some interesting effects when resistivity occurs."
      Pensava que os criacionistas eram contra modelos.

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    6. http://medicalxpress.com/news/2015-05-scientists-reverse-bacterial-resistance-antibiotics.html (6 de Maio de 2016):

      "Biologist Miriam Barlow of the University of California, Merced, and mathematician Kristina Crona of American University tested and found a way to return bacteria to a pre-resistant state. [...] To find optimal cycling strategies, the researchers tested up to six drugs in rotation at a time and found optimal plans for reversing the evolution of drug-resistant bacteria." ... "This work shows that there is still hope for antibiotics if we use them intelligently"

      Senhor criacionista, se leu o artigo, reparou que essa experiência foram realizadas com bactérias reais.

      Se o senhor criacionista diz que a resistência das bactérias é uma perda de informação, ou uma degradação bioquímica, então o retorno para o estado anterior, perdendo essa resistência, é um aumento de informação, um progresso bioquímico.

      Deve compreender que isso refuta claramente os seus argumentos e demonstra que foi várias vezes tendencioso, com amostras insuficientes, interpretações abusivas, etc.

      O senhor criacionista já não me responde há muito tempo, apesar da relevância das minhas críticas. Suponho que seja porque o senhor criacionista não consegue responder-me, um indicador da decadência criacionista.
      Cumprimentos.

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    7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    8. Já agora, senhor criacionista, John Oliver deixa recomendações apropriadas para si.

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    9. Bem, pode ainda ler o excelente livro de Ben Goldacre, "Ciência da treta", publicado em Portugal pela Bizâncio (http://www.editorial-bizancio.pt/coleccoes.php?col=14&id=445).
      Entre as várias coisas, ensina pensamento critico e como avaliar as "experiências" e as notícias que aparecem nos media.

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    10. Embora sofra do problema do costume: nada disto vem na Bíblia!

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  4. No monograma da IARC sobre esta substancia (http://monographs.iarc.fr/ENG/Monographs/vol112/mono112-09.pdf) o risco calculado em meat análises ronda 1,8. Significando que a analise estatística dos vários estudos indica que a exposicao a esta substancia aumenta o risco de ter um cancro do tipo indicado. Sendo que em Portugal a incidencia ronda os 13 casos por 100,000 habitantes, a exposicao aumenta a probabilidade de 0,013% para (13x1.8) 0,023%. (espero ter feito bem as contas).

    No ponto 6 do monograma da IARC: "There is limited evidence in humans for the carcinogenicity of glyphosate"

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  5. Quanto à incidência dos linfomas não-Hodgkin acho interessante comparar com os EUA, onde o glifosato é amplamente aplicado por cima de culturas transgénicas. A maioria dos transgénicos são concebidos precisamente para resistir ao glifosato e permitir o seu uso livre. É maior nos EUA a incidência de LNH? É. Roda os 20 por 100 mil habitantes. Mais do que qualquer país europeu. Também é quase o dobro do que era nos EUA em 1975.
    http://seer.cancer.gov/statfacts/html/nhl.html

    No entanto, a taxa de incidência chegou aos 20 em... 1995. Antes da explosão de utilização de transgénicos. O glifosato já era usado, mas certamente em muito menor escala em 1995.

    Mas digamos que a duplicação de casos de LNH nos EUA desde 1975 é inteiramente culpa do glifosato. Será que justifica bani-lo? Tal como disseste, Ludwig, será provavelmente substituído por outros herbicidas cujo perfil de risco é muito menos conhecido... e que poderá ser MUITO pior.

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  6. Só descobri este teu post depois de ter escrito ontem sobre o mesmo assunto:
    http://transicao_ou_disrupcao.blogs.sapo.pt/glifosato-a-saga-do-pernicioso-22339
    Como é fácil de perceber, não temos a mesma posição sobre o assunto. Há pelo menos três aspectos em que discordo contigo:
    - a comparação com "A imperial, o cheiro a fritos, o fumo da lareira e uma tarde na praia" não faz grande sentido pois todas essas actividades podem ser evitadas se assim o quisermos; a exposição ao glifosato, pelos vistos, não!
    - existem de facto alternativas ao uso de herbicidas que envolvem os modos de produção biológica, a permacultura ou a agroecologia em termos de uso agrícola, e o uso de processos alternativos de monda nos espaços públicos (ver p.ex.: http://www.esquerda.net/artigo/nao-ha-alternativa-ao-glifosato/42346)
    - em relação ao preço elevado dos produtos biológicos, o problema é exactamente o contrário: o preço dos produtos de agricultura convencional é que são artificialmente baixos pois beneficiam não só das vantagens da economia de escala e dos baixos custos de produção, como não incluem custos ambientais e sociais ('externalidades').
    http://www.theguardian.com/commentisfree/2015/oct/07/why-should-i-eat-organic-google
    Quanto à questão da avaliação do risco, haveria muito a dizer nomeadamente sobre:
    - os riscos para saúde humana que não se limitam ao cancro (ver comunicado da PTF: http://www.stopogm.net/glifosato-herbicida-que-contamina-portugal e alguns dos links do meu post)
    - as entidades que se dedicam a estabelecer os padrões de segurança (incluindo a EFSA na UE ou a FDA nos EUA) e os problemas de conflitos de interesse, falta de isenção ou permeabilidade a pressões dos lobis empresariais.
    Pela minha parte, prefiro invocar o Princípio de Precaução (que está em risco de ser abandonado por aberrações como o TTIP) e começar a transição para as alternativas ao modelo de agricultura industrial que, ao contrário do que é repetido insistentemente, não eliminou nem eliminará a fome no mundo e vai agravar ainda mais os problemas ambientais.
    Ver p. ex. relatórios e comunicações do antigo relator da ONU para o direito à alimentação - Olivier de Schutter - em que ele defende que as soluções para eliminar a fome no mundo não passam pela produção de mais comida mas com pela soberania alimentar e a mudança dos modos de produção, nomeadamente a agroecologia:
    http://www.gaiafoundation.org/blog/un-special-rapporteur-agro-ecology-answer
    ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/meeting/018/k6518e.pdf
    http://www.thesolutionsjournal.com/node/971
    Ver ainda:
    http://foodfirst.org/publication/world-hunger-ten-myths/
    http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.pt/2011/08/os-motivos-da-fome-no-mundo-parte-2.html
    Saudações,
    Álvaro

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  7. Na minha opinião, um artigo bastante insuficiente, que faz cherry picking da informação que apresenta,precipitando-se a defender uma visão formada à priori de qualquer análise profunda.

    Chama a atenção para a falta de evidencias quantitativas em relação ao impacto da utilização, mas ao apresentar o "Impacto da proibição" não refere essas mesmas evidencias quantitativas...vai mesmo ficar mais caro? quão mais caro? SIGNIFICATIVAMENTE mais caro? Acaba o artigo com "O relevante é perguntar se o risco é suficientemente maior do que o risco das alternativas para que faça sentido abdicar das vantagens que nos trazem. Neste momento, não parece ser esse o caso" Mas a verdade é que só apresenta o dados do suposto risco de um lado da balança, mas se calhar os dois estão equilibrados, e portanto não há porque não jogar pelo seguro...não temos nenhum dado real objetivo que nos permita afirmar a frase com que o artigo termina.

    E o exemplo dado do preço dos artigos biológicos, para mim, ronda o populista, pois não tem em consideração o fato de as empresas inflacionarem o preço desses artigos bem além da diferença no custo de produção, por uma questão de explorarem a "moda" do biológico (que tem raiz numa maior consciencialização e preocupação das pessoas com as suas saúdes e o ambiente).

    E também sou contra os fundamentalismos do saudavel, mas compara-los com o acto de fumar (que cada pessoa decide ou não fazer) com a exposição a agentes sob o qual a pessoa não tem controle (visto que são aplicados em espaços públicos), não faz sentido...aliás...até pode fazer, se formos mais longe, e nos lembrarmos que fumar em locais públicos é proibido numa data de circunstâncias para proteger, exatamente, quem não se quer sujeitar a esse risco por causa da vontade de outros de se sujeitarem a isso.

    Daí, uma coisa é proibir o uso do produto em empresas privadas, outra coisa bem diferente, é proibir o uso em espaços públicos.

    E se virmos que ja existe, por exemplo, proibições relativas aos veiculos a circularem no centro da cidade, supostamente, exatamente pela questão dos gases emitidos e pelo seu impacto na saúde e ambiente/patrimonio...os exemplos apresentados não são muito sólidos...

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  8. Olá Álvaro,

    Isto já vai um pouco tarde, mas o semestre tem sido complicado. Vou dar uma olhada no teu post, porque mencionas muitas coisas diferentes e exige uma análise mais calma.

    Entrentanto, acerca destes teus comentários:

    «- a comparação com "A imperial, o cheiro a fritos, o fumo da lareira e uma tarde na praia" não faz grande sentido pois todas essas actividades podem ser evitadas se assim o quisermos; a exposição ao glifosato, pelos vistos, não!»

    Acho que sim. Os indícios de problemas potenciais pela exposição ao glifosato não foram encontrados na população em geral mas apenas nos agricultores que aplicam o glifosato. Epidemiologicamente, pareces correr menos risco com o glifosato do que por viver com um fumador, por exemplo.

    «existem de facto alternativas ao uso de herbicidas que envolvem os modos de produção biológica, a permacultura ou a agroecologia em termos de uso agrícola, e o uso de processos alternativos de monda nos espaços públicos (ver p.ex.: http://www.esquerda.net/artigo/nao-ha-alternativa-ao-glifosato/42346) »

    Concordo. Mas a questão é avaliar o impacto relativo desses métodos. Os métodos agrícolas alternativos têm custos elevados, mesmo ambientais. Por exemplo, se usares o tractor para te livrares das ervas daninhas estás a contribuir para a erosão do solo, para matar os organismos que tornam o solo fértil, etc. A agricultura é uma actividade com grande impacto ambiental, seja como for feita. No fundo, eu também «prefiro invocar o Princípio de Precaução». Se a ponderação dos riscos não nos indica claramente que lado é pior, prefiro esperar por mais informação antes de tomar uma decisão.

    Nota que nós temos informção detalhada acerca dos problemas de saúde de milhões de pessoas na Europa e na América do Norte, onde o glifosato tem sido muito usado durante décadas. Se isto causasse problemas graves não havia qualquer margem para suspeita ou discussão. Como acontece com o tabaco, por exemplo, que sabemos ser responsável por um número enorme de cancro e outros problemas, relação essa completamente evidente nos dados de que dispomos. Ou o amianto, ou o chumbo, o mercúrio, etc. O glifosato, se algum problema causar, será muito menor do que estes. É esse risco tão pequeno que é difícil de quantificar que temos de pesar com o risco, também pequeno mas também pouco previsivel, de proibir o glifosato.

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  9. Femveglx,

    «Chama a atenção para a falta de evidencias quantitativas em relação ao impacto da utilização, mas ao apresentar o "Impacto da proibição" não refere essas mesmas evidencias quantitativas...vai mesmo ficar mais caro?»

    Não sei. A minha posição é que a informação que temos é insuficiente para justificar que se proíba um herbicida que se usa há décadas sem que haja ainda evidências claras de que seja perigoso.

    «E também sou contra os fundamentalismos do saudavel, mas compara-los com o acto de fumar (que cada pessoa decide ou não fazer) com a exposição a agentes sob o qual a pessoa não tem controle (visto que são aplicados em espaços públicos),»

    Mas fumar sabemos que causa cancro ao próprio e aos outros que estejam por perto. E isso nota-se claramente nas estatísticas. Alguém fumar ao pé de mim na paragem do autocarro é mais perigoso para a minha saúde do que estar perto de plantas que foram pulverizadas com glifosato. Não sabemos quão perigoso é o glifosato ao certo, mas sabemos que é menos perigoso do que o tabaco. Porque se fosse tão perigoso como o tabaco o nível de incidência de cancro entre os agricultores que aplicam glifosato não permitiria quaisquer dúvidas ao fim destes anos todos.

    «E se virmos que ja existe, por exemplo, proibições relativas aos veiculos a circularem no centro da cidade, supostamente, exatamente pela questão dos gases emitidos e pelo seu impacto na saúde e ambiente/patrimonio...os exemplos apresentados não são muito sólidos...»

    Proibimos veículos em alguns sítios da cidade mas permitimos centenas de mortes por ano nas estradas sem baixar a velocidade máxima para 50km/h ou pôr lombas redutoras de velocidade em todas as auto-estradas. Também permitimos que se fume em locais públicos mas proibimos que se fume em empresas privadas. E assim por diante. Em todos os casos, a decisão é determinada por uma poderação de custos e beneficios que demonstra que os benefícios da decisão não só são maiores do que os custos como são maiores do que o custo intrínseco de proibir (em liberdades, em fiscalização, no preço das coisas, etc).

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